sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Assumo um ar de bravo, grito a todo pulmão tudo o que não é necessário, me finjo de otário. Sento no alpendre vazio mirando um mar imaginário, um lago, um estuário.
Velejo em um barco sem velas que ruma ao abismo sincero, crio alegrias e tristezas nas pontas de uma esfera, nas guerras internas ... garras em minha matéria.
O alvoroço se espalha, o calabouço se espalha. Espelham a angústia, a tristeza ... a vida presa nas palavras avessas, acesas.
Rio de mim mesmo quando olho meus tornozelos, meus desajeitos ... defeitos. Volto a recontar-me uma história, uma pobre escola carregada em uma sacola. A hora ... a hora passa sem deixar vestígios, sem os medos do destino.
O dia ... o dia arregaça as suas mangas no labutar sem sentido, no lutar por um pouco de grana; ao acordar me deito na grama. Dramas de um sisudo amanhecer, esqueço das coisas elementares e vejo páginas devorarem imagens, paisagens, felicidades.
As igualdades são utopias falidas, feridas que nunca cicatrizam; que no templo da noite ironizam os esquemas sociais ... os dilemas que nos fazem tanto mal.
Isto tudo é real, é realmente real. Pode não ser natural, mas o homem a tanto tempo abandonou a si mesmo, que um simples adereço vale mais que as sombras esquecidas no cais ... nunca mais.

Sampa 07/dec/90

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