Tolamente me fiz ausente dos presentes. Fingi que não era comigo, que não pertencia à aquela tribo. Todos me olharam com um olhar assustado e murmuraram algo não decifrável. Era decerto um dialeto esquecido, desses no tempo perdido, mas pude ver em suas fisionomias a atonicidade exposta a luz do dia ... na fria e melancólica luz daquele dia.
Tentaram me dar dinheiro para que eu me fizesse um deles, não aceitei! Declararam-me rei pelo dinheiro que não aceitem. Disse-lhes que a beleza da liberdade era mais forte que a tristeza daquela cidade.
Então pedras reclamaram, lustres balançaram, janelas racharam. O maciço ouro tornou-se opaco, umvácuo criado em um instante passado desmoronou os alicerces desgastados.
Vultos corriam em impensada agonia, lajes caiam sobre ricas especiarias, as ironias desapareciam e as chamas consumiam, engoliam o que restava de bom, assim como todo mal daquela ilha.
Abriu-se a terra como uma cratera sem fim, fluindo desta elementos vitais ... vitrais moviam-se alternadamente, murais de imagens sensoriais clamavam por paz; mortais procuravam o cais.
Rolou uma enorme pedra sobre a face da terra, surgiu a sombra do abutre ilustre ... embuste.
Nada restou daquela podre vida. As avenidas em sangue jaziam, as moradias de ricas famílias já não existiam. A riqueza foi exposta à pobreza e o humano tornou-se parte da natureza.
Sampa 1990
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